“Lisboa,
8 de Julho de 2015
Nem
um galinheiro, nem um chafariz, como está diferente Lisboa! A Praça da Figueira
sumiu, tal como os mercados das Picoas e da Ribeira. Já não há guardas sinaleiros,
varinas e magalas a partir para o Ultramar na Rocha do Conde Óbidos!
Espreitei
S. Bento, incógnito nas galerias, uns fedelhos gritavam sem respeito uns pelos
outros, até uma loira (falsa loira, cheira-me) preside hoje à Assembleia
Nacional. Que saudades do Albino dos Reis, do Santos Costa, e das omeletas da
Maria, pela manhã em S. Bento.
Vim
de Santa Comba no Intercidades com umas jovens que diziam ser amigas do Erasmo,
coitadas das piquenas, não sabem que já morreu, vou contar esta ao Cerejeira.
Onde se terá enfiado o safardana, sempre atrás de soutiens rendados? E pretos!
Mudou
muito, Lisboa. Fui passear de triciclo, um rapaz de brinco levou-me numa
caranguejola chamada tuk tuk- estranho nome- a visitar a cidade. Agora metem
queijo no pastel de bacalhau, vejam só, e mudaram o nome à ponte, depois duma
Abrilada feita pela soldadesca.
Quis
ir ouvir a Amália, mas parece que morreu, e está no Panteão, junto com o traidor
do Delgado e com o Eusébio, um jogador da bola de Lourenço Marques. Sítio mal
frequentado, cruzes, maldita a hora em que terminaram as obras de Santa Engrácia.
Melhoraram
, as mulheres de Lisboa. Recordo a minha primeira vez ainda seminarista em
Coimbra, com a Felismina. O Manuel, hoje cardeal, ficou de guarda, enquanto,
ardendo em fé, penetrava os húmidos desígnios de Deus.
Muitos
pensam
que sou um bota-de-elástico, mas nada, até aprecio um bom teatro, e boa
música, zarzuelas sobretudo, não vejo nenhuma no Coliseu, só anúncios a
um tal Nos
Alive, deve ser coisa ligada ao Churchill, é em inglês. Alguns
mal-intencionados zurziam contra o tio António porque que prosseguia sem
desvio a missão
que a Providência lhe confiou, mas ignoram o que é ser português das
quinas e
cristão temente a Deus e à Providência. Jacobinos duma figa, até o Papa é
um dançarino de tango encharcado em cachaça. Está tudo perdido!
Reparei que falam pelas ruas duma tal troika, pensava ser Fado, Futebol e Fátima, mas depois que me
contaram, percebi: espatifaram o ouro e entregaram as colónias, fiquei para
morrer quando me contaram, ia caindo da cadeira (outra vez!) numa casa de carne picada,
um botequim chamado McDonald’s onde em vão pedi uma patanisca e um branco.
Mas não mandam esta gente para o Tarrafal? Um empregado dum café diz que os
rapazolas de S. Bento vão para Bruxelas a toda a hora. Então e Sá da Bandeira?
E Quelimane? E Porto Amboim? Quem está lá agora, a escorraçar os turras, e a
expandir a Fé?
Há
que
voltar para Santa Comba, rápido, que isto é uma terra de loucos
desalmados. Crianças,
mal vi, os bolchevistas devem-nas ter comido ao pequeno almoço, dizem-me
que se divertem com uma ardósia moderna chamada Playstation.
Aproxima-se
uma velha, diz que me reconhece de algum lado. Nego, claro. Que sim, que me viu num filme do
Ribeirinho, a caminho do Torel, preso. Santa ingenuidade! Para o Torel preso,
só se fosse às minhas ordens, e de marcha a filambó. É o que dá verem muito
dessa telefonia com imagem, a que chamam televisão. E há umas coisas chamadas
tabletes, perguntei se eram suíços, mas não, é só para passar com um dedo, e sem
lamber.
Portugueses: ensinai a vossos filhos o trabalho e a vossas filhas a modéstia, elas
que deixem os livros de auto-ajuda e o Facebook. E se não poderdes fazer delas
santas e castas, fazei delas ao menos cristãs e fadas do lar.
Volto
para casa. Acabaram com o papel selado, o mata borrão, o selo
branco, as máquinas HCESAR, que faria eu aqui, sem mangas de alpaca e leais
servidores, sem o Rosa Casaco e o bom do Barbieri? Parece que vivem em
democracia, e gostam da rambóia. Vou-me embora, enquanto a dita dura.
António
Salazar
ditadorantonio@vivaapide.com
ditadorantonio@vivaapide.com
Professor
de Moral em Santa Comba Dão”