Das coisas que devo pensar,
mistério da graciosa idade
lembrança meiga deve estar
na imperfeição da Vontade;
Cresci em pacata cidade,
Ponta Delgada à beira mar,
em casa antiga nasci,
no colo de minha avó ergui
Meus olhos para a amar
Se não me valesse ali
Creio que não estaria aqui,
Vida minha jogos e danças;
Na mocidade, um falsete em dó,
alma inquieta, sonhos e liberdade,
mandada à deriva por ordem,
de frágil utopia, à margem
dum rasto invernoso, naquela idade
Voar como as aves no ar,
vestir minha vida com flores
o mar ondulante amar
um templo secreto, amores
Como nuvens soltas, a raiar madrugadas
ouvir o vozeirão do mar, mãos dadas,
minha avó em suas preces,
Para mim buscava o Bem
a seu lado fui princesa
afortunada também.
Ofélia Cabaço
Novembro 2021
Comungar da ideia metafísica,
respirar Espírito e sublime música
abrir a porta de casa,
ao mais alto esvoaçar
qualquer coisa não pensada,
as casas são o sémen, imaginar
as almas ao abrigo dum degredo
que nos conduz ao eterno segredo
-abrigo do medo
-abrigo do choro
-abrigo da solidão
-abrigo do amor
-abrigo da tristeza
-abrigo d´alegria também;
as casas…
um canto, uma cadeira, um livro,
para além da janela, o sol luminoso,
penetrante Bem,
E o arvoredo cantante
Alimenta nossa mente…,
Na rua, um rosto receoso,
Vivendo o erro de quem erra
Nestes dias de subtil guerra (…),
E o tempo passa silencioso,
De si cioso,
Debaixo da minha janela.
Ofélia Cabaço
Novembro 2021
Gosto
Gosto de ver milheirais
evolando-se entre campos verdejantes
Gosto do aroma das margaridas rastejantes
doce e amargo, desabrido
por entre a solenidade do silêncio,
Gosto de olhar através das árvores
e contemplar a luz do dia,
Gosto de amar ao jeito do poeta,
Gosto de sonhar e pensar o Belo
- Andar por entre nuvens brancas
quando as contemplo a correr-
Eu gosto.
Novembro 2021
Ofélia Cabaço