Era noite, lunar e cintilante, na finistérrica falésia junto
à mata atlântica, um exilado corvo, apátrida de nações, e arauto de futuros que
não virão, deambulava, subindo a Caverna, onde explorador buscava a Luz redentora
que lhe devolvesse as palavras, capturadas pelos dias, imanentes e expectáveis.
Liberto na Caverna, viajara ao Futuro e indomado voltava ao seguro eremitério
de cheiro a pinho e a mar, depois de peregrinar por sinuosas grutas,
espeleólogo de amarguras. Arqueólogo da ansiedade, voltava à Serra-Mãe que de
novo acolhia o filho pródigo. Uma poção fervilhava no caldeirão, apurando, mas
não era hora ainda de soltar a Palavra. Faltava o Fogo. O
Fogo quente e aconchegado, castigador e puro, vulto ainda apenas, como fauno
na noite. Na escuridão, buscava Claridade, encontrando-a, faróis
pirilampos o guiariam ao promontório-útero onde virariam Fogo, na Luz
amenizando a noite céltica.
Essa noite ainda uma pomba o visitaria, parceira de passeios
pela falésia sonhando inventados futuros em gritado silêncio. Estoicos e
eremitas, absortos sonhavam com a Elba Lunar para onde uma manhã partiriam,
labirínticos e trágicos.
Já várias vezes qual corvo anacoreta morrera, e logo como Fénix
renascera, tecendo promessas à Luz vaginal. A Lua Cheia ajudaria a soltar
aferrolhados silêncios do Cofre do Tempo, juntos e junto ao mar várias vezes
ambos haviam partido em barcos para Ítaca, onde formosas Penélopes os
esperavam tecendo novelos, para à noite os desfazerem, renovando
o Princípio e o Fim, o Alfa e o Ómega. Finda cada Viagem, voltavam, renovados
conquistadores da Luz.
Naquela noite, a Lua púrpura de Sintra esbatia a claridade sobre o
promontório. Cansado, o corvo sentou-se num penedo de urze, olhando-a.
Atlântido bardo do Futuro, na noite do Tempo enviaria poemas mágicos pelo bico duma
pomba que buscava a Finisterra.
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