segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Astérix e Obelix em Cynthia


Ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália estava ocupada pelos romanos. Toda? Não! Uma pequena aldeia povoada por irredutíveis gauleses resistia ao invasor. E a vida não era nada fácil para as guarnições romanas nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum. Num recanto da Armórica, um conjunto de aldeões com a ajuda de uma poção mágica que lhes dava uma força sobre-humana, preparada pelo druida Panoramix, resistia ainda, cinco anos após a rendição de Vercingetórix em Alésia. Naquela tarde, Astérix e Obélix caçavam tranquilamente javalis quando o cão Ideafix detectou um forasteiro entre os arbustos, ladrando-lhe, nervoso:
-O que é Ideafix?- Obélix já antevia algum exercício para abrir o apetite- são romanos, são, são?
Coberto de folhas, um pequeno homem de bigode escuro e cabelo negro, com um ar frágil, pediu que não lhe fizessem mal, vinha de longe só para lhes falar.
-Não vos assusteis, amigos, sou António, um lusitano, e venho para vos pedir ajuda!
-Lusitano?- Obélix coçou a cabeça. Isso não é o mesmo que romano, por Toutátis?
-Não, Obélix, não digas disparates, lusitanos são um povo ao sul da Hispânia, comem peixe e divertem-se com um jogo com bola. Os romanos estão sempre a falar num famoso Ronaldo, já esteve em Roma, no Coliseu!
-Hummm… e comem javali?
O lusitano aproveitou para se meter à graça:
-Sim, sim, na nossa província de Negrais, e na Bairrada, ocupada por guerreiros suevos, e noutras. É uma especialidade, o nosso javali!
Mais descansado, Asterix levou o lusitano até à aldeia. Em casa, o chefe, Abraracourcix levantava a mesa, desgraçadamente desde que introduzira a paridade na aldeia tinha tarefas domésticas para executar três vezes por semana. Recebido o frágil visitante este explicou ao que ia:
-Caros amigos, o meu chefe, o grande Rubio, edil de Cynthia, nas costas da Lusitânia, enfrenta um ataque de piratas- há quem lhes chame turistas- provindos das estepes teutónicas, que, munidos de sticks que capturaram imagens nossas por meios mágicos nos querem levar à ruína. Com eles apareceram umas geringonças chamadas tuktuk, com que invadem as ruas da nossa aldeia, arengando nas suas línguas bárbaras, e como ouvimos falar na vossa poção mágica, como povo amigo, pedíamos o vosso precioso auxílio. O nosso chefe manda dizer que se conseguirem acabar com estes ataques piratas vos oferece férias a todos nas nossas aldeias, plenas de sol e areia, e onde podem provar as nossas queijadas, que são uma autêntica poção!
Assurancetourix, o bardo, que entrava na altura, apanhou o fim da conversa, e logo se ofereceu para ir:
-Costa da Lusitânia? Oh, aí poderei apresentar as minhas novas canções, e ganhar uma lira de ouro, quem sabe…
Astérix mandou-o calar e coçando a cabeça advertiu para as dificuldades:
-Sabes, quem decide é o nosso druida Panoramix. Se ele estiver afim…
Felizmente o druida estava, e ficou eufórico com a ideia, ali poderia recolher mágicas folhas de oliveira e experimentar uma poção que vira no congresso de druidas em Lutécia, algo chamado ramisco, a que atribuíam poderes curativos. Assim sendo, António acompanhado dos gauleses, e também de Assurancetourix, embarcaram com destino à Lusitânia, não sem que Obélix nas costas da Cantábria “saudasse” com uma sessão de ginástica piratas acabados de pilhar um drakkar de bacalhau.
Cynthia pareceu-lhes simpática. Vendedeiras de peixe apregoavam nas ruas, romanos entusiasmados dedicavam-se a um jogo de caça a uns tais Pókemons, máquinas infernais disparavam por todo o lado, como bruxaria, de tudo capturando imagens. Empenhado, Panoramix pediu para o levarem ao chefe. No sopé da serra de Cynthia, numa tenda remendada, Rubio, o chefe luso, terminava umas pataniscas. Obelix ficou horrorizado, nem uma perna de javali, que povo mais esquisito era aquele. O chefe ficou contente por os ver e depois de lhes oferecer uma iguaria, um doce com ovos a que chamavam travesseiro, pediu-lhes ajuda para debelar a invasão. Os ataques vinham sobretudo do Norte, onde hordas em low cost, depois de destruírem Esparta e o Peloponeso avançavam agora para a Lusitânia e em particular a costa de Cynthia. César lavava as mãos, ocupado com a valquíria Ângela, que o provocava a Norte. Analisada a situação, Panoramix gizou um plano:
-Faremos assim, nobre Rubio. Amanhã pela manhã, todos os homens com menos de trinta anos farão fila na praça central, eu distribuirei a poção e nas duas horas seguintes todos os pombos correios, estafetas, legiões ou coortes de forasteiros serão eliminados. Ao meu sinal, a liberdade do vosso povo será reposta e podereis em paz voltar aos vossos pratos de bacalhau!
-Óptimo!-Excitado, Rubio mandou avisar os chefes locais, incrédulos, alguns não compareceram, insistindo antes nos poderes duma poção de Reguengos, o jovem Celso prometia trazer um balde, e queria ser o primeiro.
Era longa a fila, no dia seguinte. Obélix ainda tentou infiltrar-se, pondo um chapéu a imitar um pegador de toiros, mas Panoramix fez má cara, caíra no caldeirão em pequeno e não precisava de poção. Acometidos de uma força colossal, os pequenos lusitanos, empolgados, logo se dirigiram à praça por onde entravam as quadrigas e cavalos dos invasores, destruindo um tuktuk gigante que transportava suevos. Um monstro accionado por imagens mágicas, a que chamavam selfies, ainda foi atiçado, mas, destemidos, os de Cynthia deram luta, ao fim do dia, em Roma,  César que lera os fígados das aves, enfim decretava apoio a Rubio que rejubilava, ufano, enquanto as ruas de Cynthia ficavam livres de quadrigas e dos forasteiros que se atulhavam de cerveja e hidromel. Era a vitória total, nem Mourinho, o bravo guerreiro da Ibéria, lograra chegar tão longe, uma vez mais a poção miraculosa ajudava os homens de Bem. Nessa noite, os de Cynthia ofereceram um festim com danças locais e regadas com um ramisco digno dos Deuses. Já vermelho, Panoramix pedia uma pipa, para levar para a aldeia, a um canto, pendurado duma árvore e amordaçado, Assurancetourix via negada a sua estreia ibérica. Não era o único, porém, a seu lado e guardado por guerreiros lusitanos, dois condutores de tuktuk capturados, pendiam igualmente amordaçados, impedidos de manobrar as tenebrosas máquinas.
Já os gauleses regressavam a casa, novo surto de estrangeiros retomava os ataques a Cynthia. Definitivamente, não havia poção mágica que resolvesse. Os deuses haviam decretado que Cynthia seria assolada, e contra o Olimpo, nem Toutátis, nem os edis, nem os poderosos gauleses podiam. Ainda hoje a praga subsiste, e não há Verão, nem solstício, nem saturnal, em que a invasão não atinja Cynthia, sob o silvo uivante dum Tritão para os lados da Roca.


segunda-feira, 8 de abril de 2019

Vandalismo no Núcleo

Pela terceira vez no espaço de um ano a sede do Núcleo do Sporting Clube de Portugal de Sintra foi vandalizada, ironicamente dias depois de um jogo que a muitos terá incomodado.
O Núcleo do SCP de Sintra repudia todos os atos de vandalismo, sejam da parte de quem surjam ou contra quem se dirijam, agravados neste caso por de forma repugnante virem celebrar o assassínio em 1986 de um adepto do nosso clube em pleno Estádio Nacional, sintoma de que o ódio e a intolerância, por certo com fins nada desportivos continuam impunes na sociedade e no futebol português.
Um clube com 113 anos não é facilmente atingido por quem nada conhece senão a marginalidade e o facciosismo. Somos leões e não é um dardo supérfluo que nos irá abater. Passaremos a estar mais vigilantes, e nunca responderemos da mesma forma. Saudações Leoninas
Viva o Sporting Clube de Portugal!

sexta-feira, 15 de março de 2019

Sintra e a Música


Está a Câmara Municipal de Sintra a realizar um ciclo de palestras mensais sob o título “Conversas sem Rede” onde aborda os mais variados temas, da literatura à ciência, sendo a sessão de março, a realizar no dia 28 de março pelas 18h na Biblioteca Municipal de Sintra dedicada ao tema “Sintra e a Música- Do Passado ao Futuro”, onde se vão evocar 100 anos de eventos e de história da vila de Sintra nesse campo, bem como abordar o futuro, na perspetiva de Sintra como uma Cidade/Vila da Música, e do papel dos seus artistas, instituições e escolas nesse desafio.
Serão oradores a dra Gabriela Canavilhas, diretora artística do Festival de Sintra de 2018, e personalidades ligadas ao meio musical sintrense.
Entrada Livre.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

80 anos do Arquivo

O Arquivo Municipal de Sintra comemora 80 anos este ano, e para assinalar a data, a Câmara Municipal de Sintra promove no dia 14 de Fevereiro um dia de visitas grátis ao espólio do Arquivo, às 10h e às 14h30m, para grupos de 15 pessoas cada, e mediante inscrição para o número 219238533 ou dcul.arquivo@cm-sintra.pt
Pelas 17h desse dia, no MU.SA-Museu das Artes de Sintra terá lugar uma sessão pública em que serão oradores o prof. Carlos Guardado da Silva e o dr. Júlio Cardoso.Entrada Livre.



terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Gonçalo M. Tavares



A partir de 19 de janeiro, e uma vez por mês, a Biblioteca Municipal de Sintra-Sala Vergílio Ferreira- vai receber o escritor Gonçalo M. Tavares que livremente debaterá com os participantes temas candentes da nossa vida contemporânea. Tais sessões, designadas “Conversas com Gonçalo M. Tavares”, terão início às 15h e a duração de 2 horas, serão de entrada livre, mas limitadas a 30/35 participantes, os quais, querendo, podem inscrever-se antecipadamente para dcul@cm-sintra.pt
Nas próximas sessões serão abordados os seguintes temas:
23 de fevereiro- A saúde, a alegria
16 de março- Racionalidade e loucura
27 de abril- A tecnologia
25 de maio- A linguagem, a verdade e a mentira
22 de junho- Imagens e imaginação
28 de setembro- O poder, a politica
26 de outubro- A Identidade
23 de novembro- O amor
28 de dezembro- As utopias
 
Gonçalo M. Tavares é já um dos escritores mais traduzidos de sempre da literatura portuguesa, (estando em curso traduções e edições internacionais de todos os seus livros, em mais de 50 países). Gonçalo M. Tavares recebeu importantes prémios em Portugal e no estrangeiro, nos mais diversos géneros literários. Como Aprender a Rezar na Era da Técnica recebeu o Prix du Meilleur Livre Étranger 2010 (França), prémio atribuído antes a Robert Musil, Philip Roth, Gabriel García Márquez, Elias Canetti, entre outros. Recebeu inúmeros prémios internacionais: Prémio Portugal Telecom 2007 e 2011 (Brasil), Prémio Internazionale Trieste 2008 (Itália), Prémio Belgrado 2009 (Sérvia), Grand Prix Littéraire Culture 2010 (França), Prix Littéraire Européen 2011 (França). Foi por diversas vezes finalista do Prix Médicis e Prix Femina.
Em Portugal recebeu, entre outros, o Grande Prémio do Romance e Novela da APE, Prémio José Saramago, Prémio Fernando Namora. Jerusalém foi o livro mais escolhido pelos críticos do jornal Público para romance da década e Uma Viagem à Índia foi escolhido pelo jornal DN, por diferentes críticos, como uma das 25 obras essenciais da história da literatura portuguesa.
Compareçam!