Ano 50 antes
de Cristo. Toda a Gália estava ocupada pelos romanos. Toda? Não! Uma pequena
aldeia povoada por irredutíveis gauleses resistia ao invasor. E a vida não era
nada fácil para as guarnições romanas nos campos fortificados de Babaorum,
Aquarium, Laudanum e Petibonum. Num recanto da Armórica, um conjunto de aldeões
com a ajuda de uma poção mágica que lhes dava uma força sobre-humana, preparada
pelo druida Panoramix, resistia ainda, cinco anos após a rendição de
Vercingetórix em Alésia. Naquela tarde, Astérix e Obélix caçavam tranquilamente
javalis quando o cão Ideafix detectou um forasteiro entre os arbustos,
ladrando-lhe, nervoso:
-O que é
Ideafix?- Obélix já antevia algum exercício para abrir o apetite- são romanos,
são, são?
Coberto de
folhas, um pequeno homem de bigode escuro e cabelo negro, com um ar frágil,
pediu que não lhe fizessem mal, vinha de longe só para lhes falar.
-Não vos
assusteis, amigos, sou António, um lusitano, e venho para vos pedir ajuda!
-Lusitano?-
Obélix coçou a cabeça. Isso não é o mesmo que romano, por Toutátis?
-Não,
Obélix, não digas disparates, lusitanos são um povo ao sul da Hispânia, comem
peixe e divertem-se com um jogo com bola. Os romanos estão sempre a falar num
famoso Ronaldo, já esteve em Roma, no Coliseu!
-Hummm… e
comem javali?
O lusitano
aproveitou para se meter à graça:
-Sim, sim,
na nossa província de Negrais, e na Bairrada, ocupada por guerreiros suevos, e
noutras. É uma especialidade, o nosso javali!
Mais
descansado, Asterix levou o lusitano até à aldeia. Em casa, o chefe,
Abraracourcix levantava a mesa, desgraçadamente desde que introduzira a
paridade na aldeia tinha tarefas domésticas para executar três vezes por
semana. Recebido o frágil visitante este explicou ao que ia:
-Caros
amigos, o meu chefe, o grande Rubio, edil de Cynthia, nas costas da Lusitânia,
enfrenta um ataque de piratas- há quem lhes chame turistas- provindos das
estepes teutónicas, que, munidos de sticks que capturaram imagens nossas por
meios mágicos nos querem levar à ruína. Com eles apareceram umas geringonças
chamadas tuktuk, com que invadem as ruas da nossa aldeia, arengando nas suas
línguas bárbaras, e como ouvimos falar na vossa poção mágica, como povo amigo,
pedíamos o vosso precioso auxílio. O nosso chefe manda dizer que se conseguirem
acabar com estes ataques piratas vos oferece férias a todos nas nossas aldeias,
plenas de sol e areia, e onde podem provar as nossas queijadas, que são uma
autêntica poção!
Assurancetourix,
o bardo, que entrava na altura, apanhou o fim da conversa, e logo se ofereceu
para ir:
-Costa da
Lusitânia? Oh, aí poderei apresentar as minhas novas canções, e ganhar uma lira
de ouro, quem sabe…
Astérix
mandou-o calar e coçando a cabeça advertiu para as dificuldades:
-Sabes, quem
decide é o nosso druida Panoramix. Se ele estiver afim…
Felizmente o
druida estava, e ficou eufórico com a ideia, ali poderia recolher mágicas
folhas de oliveira e experimentar uma poção que vira no congresso de druidas em
Lutécia, algo chamado ramisco, a que atribuíam poderes curativos. Assim sendo,
António acompanhado dos gauleses, e também de Assurancetourix, embarcaram com
destino à Lusitânia, não sem que Obélix nas costas da Cantábria “saudasse” com
uma sessão de ginástica piratas acabados de pilhar um drakkar de bacalhau.
Cynthia
pareceu-lhes simpática. Vendedeiras de peixe apregoavam nas ruas, romanos
entusiasmados dedicavam-se a um jogo de caça a uns tais Pókemons, máquinas
infernais disparavam por todo o lado, como bruxaria, de tudo capturando
imagens. Empenhado, Panoramix pediu para o levarem ao chefe. No sopé da serra
de Cynthia, numa tenda remendada, Rubio, o chefe luso, terminava umas
pataniscas. Obelix ficou horrorizado, nem uma perna de javali, que povo mais
esquisito era aquele. O chefe ficou contente por os ver e depois de lhes
oferecer uma iguaria, um doce com ovos a que chamavam travesseiro, pediu-lhes
ajuda para debelar a invasão. Os ataques vinham sobretudo do Norte, onde hordas
em low cost, depois de destruírem Esparta e o Peloponeso avançavam agora para a
Lusitânia e em particular a costa de Cynthia. César lavava as mãos, ocupado com
a valquíria Ângela, que o provocava a Norte. Analisada a situação, Panoramix
gizou um plano:
-Faremos
assim, nobre Rubio. Amanhã pela manhã, todos os homens com menos de trinta anos
farão fila na praça central, eu distribuirei a poção e nas duas horas seguintes
todos os pombos correios, estafetas, legiões ou coortes de forasteiros serão
eliminados. Ao meu sinal, a liberdade do vosso povo será reposta e podereis em
paz voltar aos vossos pratos de bacalhau!
-Óptimo!-Excitado,
Rubio mandou avisar os chefes locais, incrédulos, alguns não compareceram,
insistindo antes nos poderes duma poção de Reguengos, o jovem Celso prometia
trazer um balde, e queria ser o primeiro.
Era longa a
fila, no dia seguinte. Obélix ainda tentou infiltrar-se, pondo um chapéu a
imitar um pegador de toiros, mas Panoramix fez má cara, caíra no caldeirão em
pequeno e não precisava de poção. Acometidos de uma força colossal, os pequenos
lusitanos, empolgados, logo se dirigiram à praça por onde entravam as quadrigas
e cavalos dos invasores, destruindo um tuktuk gigante que transportava suevos.
Um monstro accionado por imagens mágicas, a que chamavam selfies, ainda foi
atiçado, mas, destemidos, os de Cynthia deram luta, ao fim do dia, em
Roma, César que lera os fígados das
aves, enfim decretava apoio a Rubio que rejubilava, ufano, enquanto as ruas de
Cynthia ficavam livres de quadrigas e dos forasteiros que se atulhavam de cerveja
e hidromel. Era a vitória total, nem Mourinho, o bravo guerreiro da Ibéria,
lograra chegar tão longe, uma vez mais a poção miraculosa ajudava os homens de
Bem. Nessa noite, os de Cynthia ofereceram um festim com danças locais e
regadas com um ramisco digno dos Deuses. Já vermelho, Panoramix pedia uma pipa,
para levar para a aldeia, a um canto, pendurado duma árvore e amordaçado,
Assurancetourix via negada a sua estreia ibérica. Não era o único, porém, a seu
lado e guardado por guerreiros lusitanos, dois condutores de tuktuk capturados,
pendiam igualmente amordaçados, impedidos de manobrar as tenebrosas máquinas.
Já os
gauleses regressavam a casa, novo surto de estrangeiros retomava os ataques a
Cynthia. Definitivamente, não havia poção mágica que resolvesse. Os deuses
haviam decretado que Cynthia seria assolada, e contra o Olimpo, nem Toutátis,
nem os edis, nem os poderosos gauleses podiam. Ainda hoje a praga subsiste, e
não há Verão, nem solstício, nem saturnal, em que a invasão não atinja Cynthia,
sob o silvo uivante dum Tritão para os lados da Roca.
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