Era
uma vez um mouro nascido na terra das amendoeiras, marafado à nascença, ainda
jovem, foi mandado pelo pai a estudar na madrassa, contas e álgebra foram a sua
vocação. Alto e esguio, tímido e encavacado, partiu depois para o grande bazar,
onde se dedicou à banca. Legumes, frutos, amêndoas, de tudo vendeu o jovem,
mouro de trabalho, poupando para o futuro, professor mais tarde na madrassa
onde estudara.
Estando o Emirado
dominado pelos almorávidas e indo passear um camelo novo, anunciou a jihad, ele que
nunca se enganava e raramente tinha dúvidas, e pregando a guerra santa chegou a
emir. Allah u akbar!-
gritou quando de cimitarra em punho entrou no Palácio de Al Sanbent,
perto da Grande Mesquita, seguido pelas tropas do Crescente Laranja.
Como emir fez obras,
mas, mandado pelo Califado, mandou arrancar as amendoeiras e figueiras, mandou
encostar os barcos e vender o gado, deu trabalho porém, e os muezzin do minarete
chamavam por ele como se o próprio Profeta fosse, senhor do Islam e pavor dos
infiéis kafir,
para ele nada mais que camelos. Cansado, e tendo-se retirado dez anos,
entendeu, ouvida uma moura encantada, voltar à Cidade Santa, para aplicar a sharia, mas os
tempos haviam mudado e teve de o fazer com o vizir almorávida Youssuf El Socas,
estudioso de Filosofia e chefe das tribos do norte. Disputando a interpretação
do Corão, deixou que se esbanjassem os dinares, obrigando a que, enviados pelo
Califado, três reis do Oriente chegassem trazendo ouro, incenso e mirra.
Envelhecido e agastado, Al Zeimer arrasta-se hoje, sem dinheiro nos cofres ou
tâmaras na tenda, sem primavera árabe, resta-lhe o inverno em Bulik Eime, se a
isso os reis magos obrigarem e os dinares chegarem e aos três reis trocar os
passos. A História guardará de Al Zeimer a memória de Ali Babá, que abrindo a
gruta com palavras mágicas, logo, qual bolo-rei, se deixou levar por quarenta
ladrões. Salam’alek,
Al Zeimer, emir de Bulik Eime e senhor do Gharb Al Andaluz!
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